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segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Estudo: Como resolver problemas de relações interpessoais


Conflitos existem nos relacionamentos desde a primeira família da humanidade. Movido pela inveja, Caim matou seu irmão Abel (Gn 4). Desde então, matar, destruir, desprezar, criticar, difamar, mostrar indiferença e outras atitudes tem sido as soluções encontradas pelo homem carnal para resolver os problemas das ofensas. Resumindo, dois perigos podem ocorrer quando a ofensa surge: a conduta ímpia e o impacto negativo na vida dos outros.

Conduta ímpia 
Quando ofendida, a pessoa deve se guardar dos desejos de vingança e das emoções abrasadoras. Isso porque tais sentimentos agravam o problema e o tornam maior do que geralmente é. Ao escolher a conduta ímpia precisamos estar cientes que o ódio, as discussões, os ciúmes, acessos de ira, contendas, dissensões e maldições nos impedem de estar, permanecer e participar do reino de Deus: “não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam”, Gl 5.20-21; Tg 3.13-16. 
Vemos em Provérbios 15.18: “O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apaziguará a luta”. O descuido em buscar um procedimento condizente com a Palavra de Deus, adotando a conduta cristã, acaba por prejudicar a nossa vida espiritual e, porque não dizer, até física e mental. As perdas podem se tornar irrecuperáveis. Já pensou no desespero, como já vimos muitos casos, quando alguém briga com seu próximo e este, momentos após, morre em um acidente sem que tivessem se reconciliado? Carregar a culpa e o remorso vai ser a triste sina da pessoa que se deixa levar pela ira. E para onde irá o que morreu com o coração carregado de sentimentos negativos? 
"Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço", Lc 21.34. “Segui a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor”, Hb 12.14.

Impacto negativo em terceiros 
Quando o ressentimento ou raiz de amargura toma conta do nosso coração, não só assumimos a conduta dos ímpios, como contaminamos os que nos rodeiam (Hb 12.15). Acabamos envolvendo outros que não têm nada a ver com o problema, no efeito bola de neve. Ao incluir pessoas no assunto que só a nós e ao ofensor pertence, acabamos por induzi-las a pecar, a tomar partido contra alguém que nenhum mal lhes fez. 
O resultado pode ser catastrófico: o ofensor, que poderia ter sido resgatado do seu procedimento pela nossa boa conduta, pode ser lançado num lamaçal sem retorno. Ou o ofendido poderia ter sido admoestado a tomar a conduta cristã, o que nos tornaria mensageiros da paz e não instigadores da guerra. O resultado seria de bênçãos para todos.

O ensino bíblico
A Bíblia mostra o caminho correto a seguir quando somos ofendidos ou sabemos que alguém está ofendido contra nós. Tanto com relação à família e aos amigos, como aos irmãos da fé, filhos de Deus, lavados e remidos pelo sangue de Jesus. Se quisermos acertar, se desejamos a vontade de Deus em nossas vidas, o melhor é obedecer aquilo que Ele nos orienta a fazer. Os conflitos podem resultar em bênção, em ganho e não em perda, o que acrescenta benefícios na vida de todos os envolvidos.
O melhor a fazer seria perdoar incondicionalmente, voluntariamente, orando pelo transgressor com o mesmo amor e ardor com que Cristo intercede por nós, Mt 5.38-48; Rm 8.34. Se Cristo nos ama apesar das nossas culpas e imperfeições, oferecendo-nos oportunidades todos os dias, imitar a Sua conduta não só irá nos identificar com Ele, como também nos livrará de situações embaraçosas ao iniciarmos um confronto.
Todavia, se acharmos que devemos colocar um fim na situação, esclarecendo-a, o Senhor Jesus orienta os passos a seguir, baseados no texto de Mateus 18.14-22: 



1. VAI TU E ELE SÓ – o Senhor, no v. 14, expressa o desejo de que nenhum dos pequeninos se perca. Ele vê a todos como ovelhinhas do Seu rebanho e quer cuidar de todos com o mesmo zelo e carinho, ainda que cometam ofensas e pecados. No v. 15, Jesus diz: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão”. É claro que, se alguém nos difamar, nos destratar e tentar contra nós, essa pessoa estará pecando contra nós. Jesus está falando de algo que ocorreu entre a pessoa e nós.
Para cumprir a orientação divina de “repreende-o entre ti e ele só”, é preciso antes orar, esperar o melhor momento, não pegar a pessoa desprevenida, procurar um lugar adequado e desejar, do fundo do coração, que o problema seja resolvido em paz. 
Devemos considerar, porém, que se a ofensa foi comunicada por outrem, é possível que ele tenha aumentado ou diminuído a força e o tamanho da questão. Como diz o ditado: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. Essa pessoa talvez nem seja digna de tanta confiança, uma vez que traiu a confiança de outra pessoa que, às vezes, apenas tenha desabafado com ela ou contado um fato sem maldade no coração, esperando que fosse orar por ela.
Mark Twain diz que, para que experimentemos o sofrimento pela difamação, é necessária a presença de duas pessoas pelo menos: o inimigo que difama e o amigo que conta. Que amigo verdadeiro gostaria de nos ver sofrendo? E como ele ficou sabendo da afronta: não será por que também se passava por amigo de quem falou? Quem trai a confiança de outrem também não trairá a nossa em ocasião oportuna? Eis uma questão a pensar.
Voltando ao assunto de resolver o problema da ofensa, a receita de Jesus é para ganhar o irmão: “vai tu e ele só”. Mas não é para ir com as mãos cheias de pedras, com palavras duras, com posturas inadequadas a um cristão. É para ir com sentimento de perdão, com atitude de quem deseja ver a situação findando pelo amor, pelo respeito, com sinceridade de coração. O melhor a fazer é orar, orar muito e buscar de Deus a orientação a seguir. Pedir ao Espírito Santo que ajude a falar e comportar de maneira adequada, a fim de ganhar e não perder o irmão. O anseio de Deus é que, daí, surja uma amizade maior, a comunhão seja restaurada e haja alegria no Espírito Santo. 

2. CHAMA TESTEMUNHAS – “Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada”, v.16. É a hora da acareação. Já tentou primeiro uma conversa íntima entre os envolvidos: você e o ofensor. A pessoa não ofereceu chance de resolução. Opôs resistência. Então, Jesus dá a orientação seguinte: volta a falar com a pessoa, mas levando junto pelo menos duas testemunhas. 
Quem é a testemunha? Não é um amigo particular, que vai ali tomar a nossa defesa ou nos ajudar a condenar o ofensor. Quem acusa ou absolve são o advogado, o promotor, o juiz ou a liderança legal da igreja. Testemunha é a pessoa que viu, que ouviu, que presenciou o fato. Principalmente aquela que comunicou a demanda, trazendo a dificuldade no coração do ofendido. 
É um ato de injustiça tomar decisões contra uma pessoa sem lhe dar chance de defesa. Geralmente se diz que “alguém falou”, mas nunca se confessa quem. A pessoa que vai levar notícias a outra deve estar preparada para assumir as suas palavras. A Bíblia traz muitas referências onde o Senhor condena a falsa testemunha. Condena também aquela que semeia contendas entre os irmãos. Jesus disse que o pacificador é bem-aventurado, pois ele é o verdadeiro filho de Deus, Mt 5.9. Pacificador é o que estabelece a paz e não o que semeia a guerra e instiga os ânimos contra o seu semelhante.
Prov. 6.16-19 diz: “Há seis coisas que o Senhor detesta e a sétima Ele abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”. 
Nessa hora da acareação o ofendido também deve estar disponível para ser julgado. Pode ser que ele é que tenha começado a questão, falando do ofensor com outros e estes, no ardor da conversação, tenham acabado por contar coisas que ouviram. Todos nós já passamos por isso e temos muito do que nos arrepender. 
Justiça é um dos atributos essenciais do Senhor Jesus. Amor e misericórdia caminham junto com a justiça. É por isso que Ele admoesta o ofendido a buscar testemunhas verdadeiras, pessoas com caráter refinado, que irão ali para julgar a verdade, mas também para ser acareados com aquilo que falaram. E, o que é melhor, oferecer uma chance de reconciliação.

3. DIZE À IGREJA – “E, se não as escutar, dize-o à igreja”, v.17a. Esse terceiro passo deve ser dado quando já se tentou os dois anteriores e o ofensor demonstrou resistência. Sem assumir atitudes ímpias, acusações e outras que levam o ofendido para o patamar do ofensor (às vezes até mais para baixo), chega a hora de comunicar à Igreja. 
Isso não representa que se vá ao púlpito e se fale com todos da Igreja o problema. O escândalo somente trará prejuízos à Igreja e pode levar muitos a desistir da fé. O pastor ou sacerdote é o principal representante da Igreja. Ele pode agora ser o conciliador ou o que vai decidir o que fazer no referente à questão. Pode ser até que o Conselho da Igreja seja consultado e tente efetuar o concerto entre ofendido e ofensor, procurando resolver o problema pelos caminhos do amor, da humilhação e do perdão. Ter o coração aberto para ouvir e atender pode trazer resultados lindos de reconciliação. 
Quando comunicamos o fato a qualquer pessoa da Igreja em nosso primeiro passo, já teremos ferido o princípio ensinado pelo Senhor Jesus. A menos que procuremos alguém espiritual, pessoa de caráter aprovado, para nos aconselhar e orar conosco, pedindo sigilo e prudência com relação ao ocorrido, a igreja somente deve saber dos fatos quando já se tentou pelos dois caminhos anteriores. E ainda precisamos considerar se isso é mesmo necessário. A Bíblia diz que a glória de Deus é encobrir as faltas dos homens, mas a glória dos reis da terra é desvendá-las, Pv. 25.2. 

4. PÕE FIM AO RELACIONAMENTO – “e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano”, v. 17b. A pessoa resistiu; não houve a reconciliação; é a hora de evitar o relacionamento. De considerar o ofensor como aquele que precisa se converter. E, mesmo considerando-o assim, ainda obedecer ao ensino de Jesus: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”, Mt 5.44, lembrando que as “misericórdias do Senhor não têm fim”, Lm 3.22. Em resumo, tomar atitudes sem perder a dignidade e a postura cristã ideal.
Por que desejei escrever esse artigo? Porque tenho visto exatamente o inverso: a pessoa ofendida primeiro corta o ofensor sem chances, comunica a Igreja, chama testemunhas e quer resolver a questão saindo por cima. Movida por ódio, ira, orgulho e outros sentimentos incompatíveis com a vida cristã, ela muitas vezes forma um temporal com um copo de água. Coisas que poderiam ter sido resolvidas de forma tão simples, acabam se tornando algo tão grande que coloca obstáculos na comunhão com pessoas que podem ser instrumentos de Deus para nos abençoar, mesmo tendo errado para conosco. Quem sabe o coração do ofendido também precise ser tratado, para que aprenda a perdoar, a amar, a orar, a buscar mais o Senhor, a depender do Espírito Santo para resolver suas questões. 

Concluo com as inspiradas palavras do apóstolo Paulo: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”, Rm 8.28. Deus pode estar usando as situações de conflito para nos ensinar princípios gloriosos de comportamento cristão, que haverão de beneficiar a nós, aos que nos rodeiam e à Igreja do Senhor. O resultado será: crescimento, concerto, melhora, aprendizagem e muitas outras bênçãos que, sem determinadas situações em nossas vidas, jamais alcançaríamos. Soli deo gloria.

Por Ev. Alaid S. Schimidt

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